Os pontos corridos ainda valem a pena?

https://futebolcartesiano.blogspot.com/2013/11/os-pontos-corridos-ainda-valem-pena.html
. No início da era dos pontos corridos eu era radicalmente contra. Até por ter vivido minhas maiores alegrias e decepções no mata-mata, achava impossível que o futebol tivesse graça no formato dos pontos corridos. Mas o tempo passou e o argumento do "vence a equipe que melhor se planeja" acabou me convencendo de que de repente, seguir o modelo europeu era a melhor saída mesmo. É, dizem que com tudo a gente se acostuma...
Vi o São Paulo ser tri-campeão brasileiro, vi também o Corinthians ganhar dois títulos, bem como o Fluminense, e somados ao título do Santos e ao do Flamengo, tudo dava a entender que essa hegemonia do eixo Rio-São Paulo com seu maior poderio financeiro casava com um maior planejamento. Afinal um lucro maior possibilita um melhor planejamento e vice-versa, certo?
Errado.
Você notou que eu não citei nem o primeiro nem o segundo título brasileiro do Cruzeiro nos pontos corridos? Não citei porque o Cruzeiro é de repente a prova cabal de que esse pensamento bairrista não justifica de forma satisfatória a lógica defensora dos pontos corridos no Brasil. Afinal, os dois "patinhos feios" de Minas Gerais foram os únicos clubes nacionais que verdadeiramente brilharam em 2013 - No caso do Cruzeiro mais ou menos, como veremos a seguir...
Talvez também porque o Cruzeiro represente o exato prazo de validade desse formato de campeonato, em que venceu a primeira edição lá em 2003, de forma incontestável sob o comando de Wanderley Luxemburgo (ainda em grande forma), mas que dez anos depois a
levantou o caneco com antecedência quase que unicamente por falta de um concorrente a altura. Será que este foi o time que desenvolveu o melhor trabalho, ou somente o menos ruim? Veja bem, não que esta tenha sido a característica desta edição especifica: ano após ano o nível da competição vem caindo e ao meu ver, em nada tem privilegiado planejamentos bem feitos (se é que eles de fato existem por essas plagas), até porque não há planejamento que resista a um calendário feito à moda caralha, com muitas vezes uma equipe disputando três competições em um único semestre (vide São Paulo e uma agenda maluca no início do BR2013). Outra coisa: se o planejamento bem-feito é premiado, porque o campeão brasileiro do ano passado corre risco de rebaixamento esse ano? E porque o campeão brasileiro de 2011 tem o pior ataque dessa edição, amargando apenas posições medianas durante todo o campeonato, se arrastando sem perspectiva durante toda a competição? Ué, seria o Corinthians e o Fluminense atuais absolutamente diferentes das equipes de edições anteriores? Ou será que os planejamentos foram rasgados após a conquistas de seus respectivos títulos? Ué, mas não dizem que em time que está ganhando não se mexe?
"Ah, mas o brasileiro por pontos corridos não oferece emoção apenas na ponta de cima... O Z4 muitas vezes é mais emocionante que o G4."
É. Ou melhor: SERIA se em pleno ano de 2013 não houvesse suspeitas de jogos entregues como foi o caso da vergonha protagonizada por Cruzeiro e Vasco na última rodada, em que Julio Batista pede para o jogador Cruz-maltinno fazer mais um gol em sua equipe já campeã e sossegada. Como você se sentiria se fosse o jogador do seu time fazendo isso? E se o seu fosse o beneficiado? Vale somente a lei de Gerson?
Mas tem coisa pior. Quando achamos que não tem como o caldo desandar mais, surgem fortes rumores de que existe um complô entre os grandes ameaçados para imputar o rebaixamento aos "pequenos" Ponte Preta, Criciúma e Portuguesa*.
Ora, quando a CBF após um ano de teste abriu mão do clássico na última rodada, já ficou bem claro que a preocupação da toda-poderosa com o mínimo de imparcialidade e idoneidade com o futebol não existe, mas permitir que seja tramado algo tão baixo como esse tapetão é algo vil demais.
Ser rebaixado para o torcedor de um time grande pode ser algo demais triste, desesperador e humilhante, mas poucas coisas superam o orgulho que esses mesmos torcedores sentem ao ver seu time do coração retornar triunfante para a primeira divisão, em alguns casos, definitivamente renovados e prontos para novas e maiores glórias.
Mas, e quanto a saber que seu time não está onde deveria? Infelizmente o que vemos no formato atual de campeonato nacional NO BRASIL (que fique bem claro), com calendário feito nas coxas e possibilidade de mil acordos extra-campo, com jogos em horários e a preços cada vez piores, péssima gestão e ainda piores atitudes das torcidas é isso: a disseminação de más práticas, que só contaminam o futebol e estragam o espetáculo.
* Confira aqui o Tapetão Planejado e em andamento