Deixa pra lá

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Por Pedro Cavalcanti
Confesso a vocês que gostaria de falar sobre algo positivo
nesta segunda-feira. Queria falar sobre o bom clássico disputado entre São
Paulo e Santos, ou sobre a grande vitória dos reservas do Botafogo ante o
Fluminense. Poderia até falar da fraca arbitragem na partida entre Botafogo-SP
e Palmeiras, mas ai já estaria falando de algo corriqueiro. Corriqueiro, aliás,
são as oportunidades em que sou obrigado a abandonar o lado mais lúdico do
futebol para falar de questões de vida ou morte, sem que isso seja feito de
forma poética.
Na última noite um torcedor santista, que deixará a quadra
da Torcida Jovem na zona leste de São Paulo, foi morto por 15 “torcedores” do
São Paulo. Há quem diga que os responsáveis pelo assassinato trajavam roupas de
uma torcida organizada. Mais cedo, outro santista foi
espancado por “são-paulinos”. Um jovem de 15 anos está em estado grave e,
segundo relatos, trata-se de um deficiente mental.
Hoje não perderei o meu tempo teorizando sobre o valor da
vida. Para mim, o mundo foi um bom lugar até que o ser humano se perdesse de
vez. Restam almas penadas, que vagueiam em busca de um motivo que os façam
matar o próximo. Os motivos, que no passado eram terras ou pedras preciosas,
hoje pode ser um relógio, uma pequena dívida ou até mesmo a camisa do seu time.
Não podemos atribuir às torcidas organizadas todo o ônus das
tragédias que acontecem no futebol. É lógico que esse tipo de coisa parte de
dentro das torcidas, mas sempre devemos lembrar que não há lei que puna
assassinos com o mínimo de rigor. Neste ponto, não falo apenas sobre futebol.
Todo brasileiro, por lei, tem o direito de matar alguém na condição de réu
primário.
A morte de mais um torcedor, no fim das contas, será apenas
mais um troféu para imbecis celebrarem. Não espero que algo mudará enquanto o
assassinado for anônimo, bem como o assassino. Não tento mais apontar soluções,
pois o velho discurso da punição exemplar já está batido. Apenas torço, de
longe, que torcedores se lembrem com mais frequência de que a vida não se
resolve em 90 minutos. A vida, meus caros, extrapola o limite das quatro
linhas, ganha o mundo e continua valendo a pena. Não há título esportivo que
supere tudo isso.